21 de jun. de 2011

Distanasia moderna

Abri o facebook, que quase nunca uso, e alguns antigos amigos haviam requisitado contato. Tanto tempo, uns 10 anos, casados, trabalhando, filhos, mudados...
Tudo parece que corre para eles. E para mim? Exatamente o mesmo, com 10 anos a menos de vida, ainda estudo, não tenho filhos, nem se quer namorada, e minhas experiências não me tornaram melhor em nada, em nada... pensando, dez anos sem mudanças mudaram minha disposição, talvez menos esperança, ou então nem isso, porque se a tivesse o quadro não seria um branco só.
E eu? Discretamente simpático, tenuemente agradável, razoavelmente ponderado: medíocre, no sentido exato da palavra, com habilidade suficiente para atravessar dez anos sem deixar ou sofrer marcas.
Dez anos acordando diariamente, uns 3650 dias saindo aos meus afazeres silenciosos, tomando banho, sendo conveniente, me alimentando, falando pouco, talvez o essencial; essencial para consumir dez anos em muito menos tempo.
O telefone passa meses sem tocar e quando toca nada mais que trinta ou quarenta segundos não sejam suficientes para meus amigos se fartarem da minha voz. Os contatos se escasseiam, há quantos anos não recebo uma carta? O computador permanece dias ligado sem que nenhum dos meus quase 250 contatos do MSN abram uma janela na minha tela. Mas, mesmo assim mantenho-o ligado para me sentir menos só.
Não obstante, já não me obrigo a puxar conversas, meu desespero não acomete: a sertralina entope a saída dessa brisa morna que sopra sem convicção e a fenda sem dreno eletriza os miolos.
Também não sinto mais remorso ou angustia, escrevo e questiono o transcorrido sem apertos ou taquipnéias, o fôlego é o mesmo e suficiente para mais dez anos insossos.